10 – A VINGANÇA DO INDÍGENA
Era um fim de verão, faz muitos, muitos anos, na América do Norte. Fazia meses que não chovia, e o sol castigava a terra sem piedade, de maneira a secar os córregos e riachos, ficando só os rios de maior volume d’água.
Um jovem alto, esbelto, chamado Daniel Wilson, trabalhava perto de seu rancho, localizado numa curva em que os campos se encontravam com a imensa floresta. Era o único homem branco, muitas e muitas léguas separado dos demais, e a esposa dele era a única mulher branca naquele lugar.
Por um trilho que vinha da floresta para o campo, apareceu um indígena de estatura elevada e de aspecto nobre. Porém andava como que cansado, movimentando-se irregularmente, e em seu rosto se observavam traços de doença e de quem estava muito sedento. Ao se aproximar do rancho, hesitou, por um momento, e depois se aproximou do homem branco.
“Estou muito sedento; pode fazer o favor de me dar água para beber”, disse ele.
“Vá embora”, foi a áspera resposta. “Não dou coisa alguma a indígenas”.
A descortês e violenta atitude do homem branco feriu profundamente o orgulho do selvícola, mas, como estava para morrer de sede, mesmo em desespero, suplicou de novo: “Não posso mais andar. Tenha a bondade de me arranjar água para beber!”.
“Desapareça daqui! Não quero conversa com bugres”, foi à resposta, ainda mais violenta do que a primeira.
O indígena, o exausto pele vermelha, pouco a pouco se foi virando, para partir, mas seus olhos demonstravam o desejo intenso de vingança. Vagarosamente seguiu pela estrada do campo, até penetrar na mata densa, em direção de sua aldeia.
A jovem esposa do homem branco tinha ouvido a súplica insistente do homem das selvas, assim como a cruel recusa do marido. Ficara comovida e confusa. Quando o índio se retirava lentamente, sem poder andar direito, ela foi observá-lo da janela. Quando o trilho por que andava descia, para se encobrir mato adentro, a mulher viu o caboclo parar, trêmulo, cambaleante, e cair estendido no chão.
De repente apanhou um vaso d’água, um bule de leite e um bom pedaço de pão e, como o marido estivesse do lado oposto, saiu sem ser vista para acudir aquele pobre índio. Temia que estivesse morto. Chegando lá, porém, ao local, verificou que ele havia desfalecido em conseqüência da exaustão e da sede. Com a água fresca que levara e com palavras de simpatia, conseguiu fazê-lo voltar a si. Deu-lhe de beber e alimentou-o. Pediu, então, que não levasse em conta as palavras grosseiras do marido. Refeito, dentro de pouco tempo estava ele em condição de continuar a viagem. Antes, porém, de partir, tirou uma das penas brancas que trazia na cabeça e entregou-a, dizendo:
“Minha bondosa senhora, receba esta pena. Quando seu marido estiver caçando, peça-lhe para usá-la, para que possa escapar com vida. Eu havia planejado voltar e matá-lo. Por sua causa, no entanto, não farei isto. Se ele cair nas mãos de outros de minha tribo, só escapará se estiver com esta pena”.
Ao concluir estas palavras, com um porte elegante seguiu pelo restinho do trilho e desapareceu na vastidão da floresta.
Passaram-se três anos. Outros colonos se estabeleceram naquele mesmo distrito. Perto do fim do inverno, quando a alimentação estava ficando bastante escassa, os homens se organizaram e saíram num grupo para caçar. Antes de saírem, a esposa do homem que havia sido muito, muito grosseiro para com a pele vermelha, três anos atrás, pediu-lhe que usasse a pena branca do índio na lapela de seu paletó, repetindo-lhe as palavras do selvícola quando o fora socorrer. O marido riu-se, zombando da preocupação e do medo da esposa, e não queria usar a pena. Por fim, dada a insistência da mulher e para satisfazê-la, pregou-a no paletó e saiu.
As caças estavam raríssimas. Não aparecia o que matar. Andaram e andaram, mato adentro, mais longe do que haviam imaginado. O sol descambava no poente. Todos estavam procurando matar um lindo veado, tomando posição aqui e ali, correndo para mais adiante, sem se darem conta do tempo que corria também. Daniel Wilson ficara atrás dos companheiros, procurando endireitar os sapatos que o estavam maltratando bastante.
Quando ficou pronto, já estava escurecendo a noite. Apressou-se, correndo e buscando ver que direção haviam tomado os outros. As trevas, mo meio da floresta, não permitiam mais que visse as saídas. Era difícil andar. Estava perdido. Pensou que poderia ouvir os companheiros: assobiou, gritou, e nada. Pelejou e pelejou, até se convencer de que não havia outra coisa a fazer, a não ser permanecer a noite inteira na floresta e aguardar o amanhecer do dia.
Nisto, percebeu como que vultos erguerem-se ao seu redor. Poucos momentos, e estava ele nas mãos de um grupo de índios que pareciam selvagens. Amarraram-lhe as mãos e fizeram com que ele andasse á sua frente. Cansado, mas obrigado a caminhar mais e mais, horas e horas. Depois, todos de novo a caminho.
No dia seguinte chegaram à aldeia, na floresta, perto de um lago. Cabanas altas e de topo pontiagudo, mulheres e crianças, fumaça de fogo de cozinha, tudo indicava ser de grande importância àquela taba.
O aflito homem branco foi levado a uma cabana desocupada, ficando lá sob a guarda de dois bravos jovens. Era já tarde. O sol descia no ocaso. Ouvem-se rumores entre os selvícolas. Chega outro grupo de guerreiros, com o chefe à frente, um homem alto, de boa aparência, trazendo suas penas e com as pinturas que usam na guerra.
Contaram-lhe da captura do homem branco e ele foi vê-lo. Logo que viu a pena branca, reconheceu o cativo, o homem que, anos atrás, se havia negado de socorrê-lo, mal-tratando-o sem piedade.
“É muito feliz em estar usando a pena”, disse o chefe indígena. “Se não fosse isto, você seria morto esta noite. Por causa de sua esposa, que me tratou com bondade, prometi poupá-lo quando caísse em meu poder. Por que os homens brancos não são bondosos para com os irmãos de pele -vermelha? Os pele-vermelha só matam os brancos quando se vingam de qualquer crueldade de que foram vítimas.
“Agora irei levá-lo de volta a sua casa. Eu mesmo vou acompanhá-lo. Primeiro, porém, você precisa comer e descansar”.
Ao se retirar o chefe, dois jovens trouxeram-lhe comida e uma pele sobre que se deitar, para passar bem o resto da noite. E, cumprindo a promessa, de manhã, bem cedinho, aquele valoroso chefe indígena veio e saiu com o homem branco. Caminharam léguas e léguas, através da floresta, até chegarem ao ponto em que a mata termina e começa o campo. Nesta longa viagem, Daniel Wilson aprendeu a respeitar e a admirar o homem cuja honra salvou o inimigo cativo, em seu poder.
11 – AMOR SUFICIENTE PARA TODOS
Ricardo podia ouvir o vento frio soprando lá fora e se sentiu muito alegre por ter uma casa confortável e quentinha. Ele estava observando sua mãe descascando maçãs para fazer um doce, enquanto alisava seu cachorrinho de estimação que já estava quase dormindo.
A mamãe, com todo cuidado tirava a fina casca das maçãs. A casca se enrolava, enquanto sua faca dava voltas ao redor da maçã. Sua irmã, Sandra, estava bem perto da mamãe, pegando as cascas antes que tocassem na panela.
– Eu também quero fazer isto – disse Ricardo, enquanto chegava mais perto da mamãe. – A próxima casca é minha, não é, mãe?
– Há cascas suficientes para os dois – disse a mãe – e acho que ainda vai sobrar. – E ela sorriu para Ricardo.
O sorriso da mamãe fez com que Ricardo ficasse muito satisfeito. Ele olhou para ela e sorriu também, e notou que a mamãe estava sorrindo para Sandra.
Neste momento uma casca de maçã caiu no chão, e Muchinga, a gatinha, pulou em cima dela.
– Ó, Muchinga, você é muito malandra! Disse Ricardo se divertindo, vendo como ela jogava a casca. – Você quer brincar, não é? Está bem, então venha aqui que eu vou brincar com você.
Ricardo foi até a sala e encontrou o brinquedo especial e preferido da gatinha, uma longa fita com uma pequena bola vermelha amarrada na ponta. Ele corria ao redor da sala puxando fita, enquanto Muchinga procurava caçar a bolinha.
– Grrr! – resmungou Tuty, o cachorrinho, correndo e tentando agarrar a bola. Ele havia acabado de acordar e queria entrar na brincadeira. Mas, Muchinga não gostou da história, levantou suas costas e seu pêlo, e… arranhou o Tuty. Este por sua vez, latiu, latiu e deu uma patada em Muchinga.
– Que aconteceu. Venham aqui vocês dois – disse Ricardo, sentando entre eles e gentilmente agradando cada um. – Não se preocupem. Nós podemos brincar todos juntos. Eu gosto de cada um da mesma maneira.
Pouco tempo depois tanto o cachorrinho quanto à gatinha, estavam dormindo, e Ricardo voltou para a cozinha. Sandra continuava ajudando a mãe a colocar as maçãs numa panela grande.
– Eu quero fazer isso – disse Ricardo, tentando alcançar a panela.
– Há lugar suficiente para os dois, e muitas maçãs também – disse a mãe. E desta maneira Ricardo e Sandra se revezavam ajudando até que a panela estava bem cheia.
Quando as maçãs estavam fervendo em cima do fogo, Ricardo olhou para a mamãe e perguntou:
– De quem você gosta mais, mãe, de Sandra ou de mim?
Ele esperou ansioso pela resposta. Sandra ouviu o que Ricardo tinha perguntado, e veio para perto para ouvir o que a mamãe iria responder.
Ricardo ficou muito surpreso pelo que a mãe fez então. Ela sorriu, sentou-se, e colocou um braço ao redor de Ricardo e o outro braço ao redor de Sandra.
– Ricardo – ela disse – eu vi você brincando com seu gatinho e com o seu cachorrinho.
De qual dos dois você gosta mais?
– Oh, gato e cachorro são diferentes – respondeu Ricardo. – A gatinha é branca e macia, tem lindos olhos azuis. Tuty é todo crespinho e preto, e tem um nariz comprido e bonito. Eu não gosto mais de um do que do outro.
– Bem – disse a mãe – Sandra é uma menina, com longos cabelos e olhos escuros. Você é um menino, tem cabelos curtos e olhos azuis. Vocês são ambos meus filhos, e eu amo a cada um da mesma maneira. Tenho amor suficiente para os dois, e ainda tem mais amor sobrando.
Ricardo se sentiu muito bem ao ouvir isto. Sandra também estava sorrindo.
– E sabem – acrescentou a mamãe – Deus nos ama da mesma maneira também. Ele tem muito amor por cada pessoa neste mundo.
– Assim como maçãs – riu Ricardo. – Suficiente para todos, e algumas de sobra.
Deus nos ama muito mesmo – ama a cada um de nós. Vamos lhe dizer “Muito Obrigado” por nos amar tanto e por ter feito um mundo tão maravilhoso onde podemos viver.
12 – ARTEIRO
Arteiro era um gatinho preto, que apareceu no quintal, e as crianças trouxeram para dentro de casa.
Célia deu-lhe o nome de Arteiro, porque a primeira arte que fez foi enfiar as patinhas na cesta de costura da mamãe enroscá-las na linha, desenrolar o carretel, puxá-lo para fora e embrulhar-se todo na linha já embaraçada.
Um dia, ele pulou e puxou a ponta da toalha da mesa e subiu por ela, pondo-se todo contente bem no centro da mesa! Era tão pretinho e engraçado sobre a toalha alva, que até a mamãe não pode deixar de rir ao tirá-lo de lá, dizendo que ali não era lugar para gatinhos!
“Ele precisa tomar umas lições de boas maneiras”, disse Rosália; “mas como ele aprenderá, se não entende o que dizemos?”.
Papai gostava do Arteiro também. Quando estava em casa à tarde, deixava que o gatinho lhe subisse pelas pernas, e se aninhasse no alto dos seus ombros. Depois o levava consigo até à biblioteca, e o ajeitava na mesa, onde ele tirava um bom sono. Mas quando não queria dormir, o Arteiro fazia artes: Mexia nos papéis… Um dia ele pulou na escrivaninha e passou um tempo delicioso espalhando penas e lápis pela sala toda; mas quando entornou o tinteiro, mamãe disse: “Não há jeito; precisamos ensinar boas maneiras ao Sr. Arteiro, ou então conservar a escrivaninha sempre fechada”.
“O melhor é fechar a escrivaninha”, disse Rosália que achava que o Arteiro era muito pequeno para aprender boas maneiras.
Um dia, papai estava muito ocupado e chegou tarde para o almoço. As crianças almoçaram e estavam prontas para ir à escola.
“Antes de almoçar, preciso ver o jornal”, disse o papai, “não tive tempo de correr os olhos pelas notícias esta manhã!”.
Ele abriu o jornal e começou a ler, quando…
“Papai, olhe! Gritou Rosália”, Olhe, papai!”.
Papai afastou o jornal, sobre a mesa, saboreando placidamente seu prato!
“Será possível!” Exclamou a mamãe! “Este gatinho tem que aprender bons modos!”Ela retirou o gatinho de lá, levou-o para o “hall”, fechou a porta e trocou o prato do papai”.
Papai simplesmente riu. “Ele aprenderá quando for mais velho”, disse.
Mamãe esqueceu-se do Arteiro enquanto tirava a mesa. De repente, lembrou-se. “Ora! Esqueci-me do gatinho lá no hall!”.
Ela foi procurá-lo. Nem sinal de gatinho no “hall”! Ela chamou, chamou, mas o Arteiro não apareceu. Procurou-o pela casa toda, e nada do Arteiro!
Quando as meninas voltaram da escola, a mamãe disse-lhes:
“Coitado do Arteiro! Sumiu-se! Procurem-no pelo quintal; não quero que ele passe a noite fora, sozinho!”.
As crianças procuraram e procuraram… Perguntaram aos vizinhos, e nada. Ninguém vira o Arteiro.
“Papai ficará triste quando souber do desaparecimento do Arteiro”, disse Rosália.
“Vou tentar mais uma vez. Vou olhar por toda parte”, disse Célia. Mas não foi encontrado. As crianças estavam tristes quando papai chegou para jantar.
“Papai, Arteiro sumiu-se”, disseram elas.
Papai riu gostoso
“Olhem aqui!” Disse ele. Enfiou a mão no bolso do sobretudo e retirou de lá… O gatinho preto!
“O Arteiro!” Gritaram as crianças, correndo ambas para pegá-lo.
Onde você o encontrou; perguntou mamãe.
Papai contou que já estava na metade do caminho para a cidade, quando, ao tirar, o lenço do bolso, deu com o gatinho que dormia sossegadamente no seu bolso. Quando mamãe levou-o para o “hall”, ele subiu no, sobretudo do papai e acomodou-se num dos bolsos.
“Que fez com ele, papai?” Perguntou Célia.
“Levei-o para o escritório, naturalmente”, disse ele; “não havia tempo para voltar em casa. No escritório, ele se comportou muito bem; brincou com todos e dormiu no cesto de papel. E ainda se fala em ensinar-lhe boas maneiras! Vamos tratá-lo como a um cavalheiro, e mais tarde verão que ele será o melhor e mais ajuizado gato do mundo!”.
13 – AS ESTRELAS SÃO PARA NOS GUIAR
Bruce queria acompanhar seu pai nas planícies do grande Deserto de Gobi. O Gobi se estende por muitos e muitos quilômetros, mas com muito poucas marcas ou sinais que indiquem a direção. Existem somente quilômetros de planícies onduladas – sem estradas, sem árvores, sem cidades e sem vilas.
O pai de Bruce ia com freqüência ali, porque, bem distante, além daquelas planícies, estava uma importante sede da missão. Mas era uma viagem longa, muito cansativa, e a pessoa tinha que levar tudo o que precisava, colchonete para dormir, coisas para comer e roupa suficiente para todo o tipo de temperatura. E se estivesse na época das chuvas, qualquer tipo de viagem seria muito difícil.
O papai estava se preparando para a viagem, e Bruce tinha esperança que poderia ir junto. Depois de muitas considerações sobre o assunto, e tendo de fazer uma preparação adicional, o papai decidiu que Bruce poderia ir junto desta vez. O pai carregou o carro na noite anterior, e tudo estava preparado para a partida na manhã seguinte.
“Vamos”, disse o pai, “está na hora de acordar, já é tempo de tomarmos nosso caminho”.
Bruce esfregou os olhos, se espreguiçou um pouco, e somente meio acordado, lembrou que naquela manhã iria acompanhar o pai na longa viagem. E assim, rapidamente, saiu da cama, se vestiu, e bem depressa estava sentado à mesa, tomando seu desjejum na madrugada. O papai estava colocando as últimas coisas no carro, esquentando o motor e esperando pela hora de partir.
Com um alegre “viva”, e um último carinho em Rom-rom, Bruce e seu pai saíram do portão para a estrada, e logo começaram a subir a estrada adicional que os levaria à parte alta da planície do Deserto de Gobi. Em menos de uma hora, estavam mais próximas e mais brilhantes.
O carro seguia pela escuridão, e o dirigir requeria muito pouca atenção. Bruce sentado no banco da frente com seu pai adormeceu um pouco, e o ronco contínuo do motor parece que estava embalando o pai em uma sonolência, também; mas não foram muito longe porque o carro caiu em um declive que levava a um desfiladeiro profundo. O caminho defeituoso e a sacudidura acordaram o pai, que olhando ao redor logo viu que tinham saído da estrada. Ao invés de viajarem para o sudoeste, estavam indo direto para o Este, e naturalmente logo estariam em áreas desconhecidas.
“Bem”, disse o pai, “acho que cochilei um pouco e não sabia para onde estava guiando. Eu nunca tinha visto esse desfiladeiro antes”.
“Como você sabe?”, perguntou Bruce, “existem tantos desfiladeiros, como você pode saber qual que já viu e qual não viram?”.
“Você precisa ter certeza”, respondeu o pai, “estou acostumado com os que já vi, e nunca estive neste desfiladeiro antes”.
“Você sabe em que direção está o norte, pai?”.
“Não, mas sei uma maneira que podemos descobrir”.
“Mas você não tem uma bússola”, disse Bruce.
“Não”, replicou o pai, “vamos nos guiar pelas estrelas”.
“Pelas estrelas!”, exclamou Bruce, “como, se todas estão no céu! Como pode se guiar por estrelas?”.
“Certamente podemos, filho; os marinheiros nos grandes navios que atravessam os oceanos calculam sua localização corretamente, olhando para o céu e localizando certas estrelas. Embora não estejamos no mar, estas grandes planícies são exatamente como um oceano, e nós também podemos calcular nossa localização, e encontrar o caminho certo pelas estrelas. Primeiro precisa encontrar a Estrela Polar, a Estrela do Norte, e seguir a linha até onde estão agora. Depois identificando outras constelações, e encontrando a relação com outras estrelas, podemos ter uma direção geral e saber como devemos proceder para encontrar um certo ponto no mapa”, explicou o pai.
“Isto é muito interessante”, disse Bruce. “Eu lembro que o primeiro capítulo de Gênesis nos fala que quando Deus criou o céu e a Terra, Ele mandou que aparecessem os luminares no céu, e a Bíblia nos diz que eles deveriam servir de sinal para as estações, para os dias e para os anos; mas eu não sabia que também poderiam nos ajudar a encontrar o caminho quando estamos perdidos”.
“Sim, Bruce, você não se lembra da história na Bíblia, quando os magos foram guiados por uma estrela, através do deserto até Belém, para encontrar o Menino Jesus?”.
“Ah, sim, eu me lembro desta bonita história; e sabe, pai, acho que você é igual aos magos, vai encontrar nosso caminho neste deserto através de uma estrela”.
Muitas vezes a Bíblia nos fala sobre as estrelas. Você mencionou Gênesis, onde está escrito que os luminares do céu deveriam servir de sinal. Quando Jesus esteve aqui na Terra, Ele falou sobre os sinais no céu. Um dia Seus discípulos perguntaram quando Ele voltaria a Terra, e Ele disse que haveria sinais no Sol, na Lua e nas estrelas para mostrar que Sua volta estaria perto.
“Pai, isso já aconteceu?”.
“Sim, filho, o último destes sinais aconteceu há 100 anos atrás quando houve uma chuva de estrelas cadentes. Parecia como se do céu estivessem chovendo estrelas. Por aquele e por outros sinais, podemos saber que Jesus voltará muito em breve. E assim, as estrelas não somente nos ajudam a encontrar nosso caminho aqui neste deserto, mas também sinalizam a volta de Jesus”.
E assim, guiados pelas estrelas, papai e Bruce logo encontraram a estrada correta novamente, contente por Deus ter colocado as estrelas no céu para orienta-los no caminho certo.
14 – AS MÃOS DE MINHA MÃE
Faz anos, quando minha irmã mais velha tinha meses de idade, aconteceu adormecer no quarto da frente. Mamãe estivera ocupada com o serviço da casa e, ao aproximar-se da hora do almoço, encheu o fogão de querosene, preparando-se para cozinhar o almoço.
Cheio o fogão, mamãe riscou um fósforo para acender. Seguiu-se terrível explosão, e em breve a pequenina casa se achava em chamas. Na explosão minha mãe ficou seriamente ferida. O braço esquerdo e o ombro ficaram em carne viva. Os vizinhos acorreram à cena e ajudaram-na a pôr-se em segurança.
O corpo de bombeiros da pequenina cidade; com seu primitivo aparelhamento daqueles tempos, apareceu dentro de alguns minutos. Por essa altura toda a casa era uma verdadeira fornalha.
Naturalmente, a primeira coisa de que mamãe se lembrou ao recuperar-se do choque, foi a criancinha adormecida em meio àquelas chamas. Os bombeiros e os espectadores disseram não haver esperança de penetrar nos aposentos cheios de fumaça e dos caibros a cair. Desprendendo-se, porém, dos que a procuravam conter, mamãe precipitou-se para a incendiada casa, abrindo caminho por entre o fumo e as chamas, em direção do quarto em que se achava sua filhinha – ainda adormecida.
Agarrando-a com aqueles braços já horrivelmente queimados pela explosão, mamãe carregou o precioso fardo para fora, a salvo. Apenas uma cicatriz produzida por um botão quente assinalou minha irmã mais velha, mas mamãe levou ao túmulo os vestígios de seu ato de heroísmo.
Por mais de um ano esteve ela em tratamento, enquanto a pele enxertada ia aos poucos cobrindo as feridas. Aqueles repuxados tendões desfiguraram-lhe a bela mão, e feias cicatrizes marcaram o braço que transportou a pequenina para lugar seguro. Aqueles dentre nós, porém, que conheciam a história que se achava por trás daquelas cruéis cicatrizes, amávamos aquela mãe, que a constrange a não poupar a própria vida para salvar seu filho!
Como esse amor tem inspirado e moldado à vida dos grandes homens deste mundo! Podemos seguir, através dos séculos, a influência do amor e da educação de uma mãe.
Aí está José, o jovem escravo que se tornou poderoso governador do Egito – o segundo Faraó. Em meio de adversidade e popularidade José não se desviou da senda da retidão. Por que? Porque, como menino aos joelhos de Raquel, absorvera de sua piedosa mãe aqueles princípios de verdade e justiça que o mantiveram fiel ao ser combatido pelas ondas da tentação.
Jorge Washington foi, em sua infância, moldado pelo caráter e o amor de uma piedosa mãe.
Abraão Lincoln disse uma vez: “Tudo quanto eu sou ou tudo quanto ainda espero ser, devo a minha angélica mãe!”.
“O trabalho da mãe muitas vezes se afigura, aos seus próprios olhos, sem importância. Raras vezes é apreciado. Pouco sabem os outros de seus muitos cuidados e encargos. Seus dias são ocupados com uma série de pequeninos deveres, exigindo todos paciente esforço, domínio de si mesma, tato, sabedoria e abnegado amor; todavia ela se não pode vangloriar do que fez como de algum importante feito. Fez apenas com que tudo corresse suavemente no lar; muitas vezes fatigada e perplexa, esforçou-se por falar bondosamente às crianças, mantê-las ocupadas e satisfeitas, guiar os pequeninos pés no caminho reto. Sente que nada fez. Assim não é, entretanto. Anjos do céu observam a mãe, fatigada de cuidados, notando suas responsabilidades dia a dia. Seu nome pode não ser ouvido no mundo; achava-se, porém, escrito no livro da vida do Cordeiro.
“Existe um Deus no céu, e a luz e glória do Seu trono repousam sobre a fiel mãe enquanto ela se esforça por educar os filhos para resistirem à influência do mal. Nenhuma outra obra se pode comparar a sua em importância. Ela não tem, como o artista, de pintar na tela uma bela forma, nem, como o escultor, de cinzelá-la no mármore. Não tem, como o escritor, de expressar um nobre pensamento em eloqüentes palavras, nem, como o músico, de exprimir em melodia um belo sentimento. Cumpre-lhe, com o auxílio divino, gravar na alma humana a imagem de Deus”.
Quão adequado, neste Dia das Mães, que nos detenhamos um pouco e prestemos um tributo a quem tantas vezes tem enchido plenamente a medida da dedicação por aqueles a quem ama! Por intermédio de sua ilimitada afeição, quanto filho ou filha coxeante não tem sido conduzido à luz do supremo amor celeste! Que alegre dia de reunião será aquele em que as piedosas mães de todos os séculos se encontrarem com os seus ao redor do grande trono branco!
“Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que se não compadeça dele, do filho de seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, não Me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das Minhas mãos te tenho gravado: os teus muros estão continuamente perante Mim”. Isaías 49:15 e 16.
Não quereis vós, neste Dia das Mães – enquanto o coração se acha enternecido ao pensamento do lar e da mãe – pensar também naquele incomparável amor de Cristo e entrar com Ele em mais íntimas relações – com Ele que vos amou e Se entregou a Si mesmo por vós?
15 – CARLINHOS MUDA DE OPINIÃO
– Não emprestarei para ninguém! Exclamou Carlinhos ao ver, na manhã de seu aniversário, a bela caixa de ferramentas, enviada pelo tio, acompanhada de um bonito cartão de felicitações. E para maior segurança, acrescentou ele, para que ninguém me venha pedir nada emprestado, manterei a caixa fechada e guardarei a chave comigo, no bolso.
– Não se esqueça, Carlinhos, disse o pai, que você por mais de um ano tem usado livremente as ferramentas de José. É justo que você seja reconhecido!
Carlinhos ouviu as palavras mais não claramente, pois já se adiantava quando o pai começara a falar. Não que ele não estivesse bem com José, não, eles se davam muito bem. É que no dia anterior, quando vinham da escola, José havia falado numa carteira escolar que estava fazendo para a irmãzinha brincar em casa. Ele não podia acabar porque lhe faltava um trado a fim de fazer alguns buracos nas pernas da carteira.
José estaria esperando pedir emprestado as ferramentas novas – e, pensou Carlinhos, se eu deixar a caixa aberta, José sentir-se-á livre para utilizar-se delas. O mais acertado será eu trazer a caixa sempre fechada e guardar a chave sempre comigo, no “bolso”.
À tardinha daquele mesmo dia, entretanto, José veio brincar e Carlinhos observou como ele examinava demoradamente a caixa, apreciando quão belas e finas eram as brilhantes ferramentas novinhas.
– Que lindo presente, Carlinhos, disse José tomado de grande entusiasmo. Se fossem minhas não permitiria que ninguém tocasse.
– É isso mesmo que vou fazer. Não emprestarei a ninguém, mas se você quiser fazer algum serviço, eu estarei disposto a faze-lo para você, respondeu Carlinhos.
– Você tem a chave da caixa, não tem? Perguntou José.
– Certamente, veja, e mostrou a José uma chavezinha de metal branco, brilhante.
Branco e brilhante.
– Muito bem, isto é suficiente para guardar bem as suas ferramentas, disse José, ao mesmo tempo em que seu pai o chamava.
– Vamos passear até o sítio, convidou o papai. Como uma flecha José correu para o portão, onde estava o pai.
– Você poderá vir também, disse o pai de José para Carlinhos.
– Não, obrigado, respondeu Carlinhos. Preciso fazer umas voltas para mamãe.
– Tudo, porém o que segurava Carlinhos era a linda caixa de ferramentas. Ele saiu para fazer algumas compras para a mãe, mas voltou imediatamente. Nunca fizera uma volta tão depressa. Grande era a animação pelo presente do tio – a linda caixa de ferramentas brilhantes.
Mas, quando ele voltou e acabou de fazer alguns outros trabalhos extraordinários naquela noite, não dispôs de tempo para dar mais uma olhada ao lindo presente. Demais, ele havia fechado a caixa e a chave estava consigo. Entretanto, para se cientificar correu a mão ao bolso e para espanto seu a chave não estava. Estacou, meditando.
“Bem me lembro agora, disse ele em voz baixa”. José estava com a chave quando seu pai o chamou. Será que ele me entregou a chave? Não! E Carlinhos convenceu-se de que José não lhe havia devolvido a chave.
“Malvado de José!” Murmurou, “mas eu hei de apanhá-lo. Não direi nada a ele que a minha chave desapareceu até que ele venha e me peça alguma ferramenta emprestada; então direi que a chave se perdeu”.
Carlinhos foi dormir aborrecido e na manhã seguinte acordou-se ainda amuado, mas não deu a menor impressão de que estava aborrecido. Queria demonstrar estar tudo muito bem.
Quando se dirigia para a escola viu a José que o esperava no mesmo lugar de sempre, saudando-o alegremente. Carlinhos nem tirou as mãos do bolso para corresponder à saudação de José. Este não notou que Carlinhos não lhe correspondeu o aceno de mão; nem tocou no assunto da caixa de ferramentas que Carlinhos havia recebido. No período de lanche da escola é que falou a um grupo de companheiros do lindo presente que Carlinhos ganhara. Nesta hora, Carlinhos se conteve para não desmascarar a José de ter ficado com a chave da caixa.
O dia de aulas se passou e Carlinhos não olhou nem uma vez para o lado onde se sentava José. Quando se acabaram as aulas, Carlinhos adiantou-se para casa, e naquele dia pela primeira vez não teve palavras de carinho que o veio encontrar como sempre.
Quando chegou em casa o pai o estava esperando na porta e, tomando a pasta de livros, pediu-lhe que voltasse ao armazém e trouxesse meio quilo de pregos.
Carlinhos voltou e no meio do caminho encontrou-se com José, que vinha. Seu primeiro pensamento foi passar de largo e nem olhar para o amiguinho.
– Vou ao armazém, quer ir comigo? Foi o que respondeu ao amiguinho que havia perguntou aonde ia ele.
– Não, respondeu José, mas vou esperá-lo aqui e iremos depois juntos para sua casa.
Carlinhos bem desejaria demorar um pouco mais, até que José desistisse de esperá-lo e então fosse sozinho para casa. Mas José o esperou.
– Venha e olhe isto aqui, disse José ao se aproximar Carlinhos, já de volta, e ambos pararam ao lado de uma grande construção, observando a estrutura fundamental da mesma.
– Eu olhei isto ontem à tarde, respondeu Carlinhos, parando para observar.
Num dado momento o pé de Carlinhos resvalou e o menino caiu, saltando-lhe da mão o pacote de pregos que espalharam em todas as direções.
– Que farei, agora? Mais da metade dos pregos caíram pela grade, dentro do bueiro!
Neste momento a face de José brilhou de satisfação. Parecia estranho José estar satisfeito neste transe…
– Você tem aí um cordão?
– Sim, tenho um barbante, mas que adianta?
– Certamente que o barbante só não adianta nada, retrucou José, mas olhe aqui, e desembrulhou alguma coisa.
– Um ímã! Esplêndido! Onde adquiriu você este ímã?
José sorriu satisfeito. – Eu o comprei, disse alegremente, para sua caixa de ferramentas, pois notei que não havia nenhum.
Carlinhos estava quase para dizer que José estava querendo amenizar a situação de ter ficado com a chave, mas lembrando-se do propósito que fizera quanto a manter segredo a respeito da chave, nada falou.
– Pronto, disse José, depois de haver amarrado o ímã na ponta do barbante. Estou certo de que reaveremos todos os pregos.
Em poucos minutos todos os pregos que haviam caído no bueiro estavam em mãos. Na última vez que ele ergueu o ímã do bueiro, notou que a face de Carlinhos ruboresceu de satisfação. É que unida ao ímã veio uma chavezinha – a chave da caixa de Carlinhos.
– Parece a chave de sua caixa de ferramentas!
– Sim, é a minha chave mesmo, disse Carlinhos, sem tirar os olhos do amiguinho e relembrando-se de que na tardinha anterior, ao passar por ali, ouvira um determinado som metálico, mas não podia imaginar que fosse a chave, e demais estava com muita pressa para voltar para casa com as compras que fora fazer para a mãe. Agora ele compreendia que o som era o de sua chave, quando caíra.
E cheio de emoção falou:
– Ótima coisa você ter esse ímã neste momento!
– É verdade, é uma ótima coisa, mas se você não houvesse ganhado a caixa de ferramentas eu não o compraria, pois o comprei especialmente para a sua caixa de ferramentas.
– Muito obrigado, José, disse a Carlinhos emocionado e cheio de gratidão. E acrescentou: – Quando você desejar algumas de minhas ferramentas, disponha. A caixa estará sempre aberta!
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maravilhoso