O desenvolvimento emocional é tão ou mais importante que o intelectual. É o que pensa Tania Paris, presidente da Associação pela Saúde Emocional de Crianças
por Marcia Bindo
Na escola, as crianças aprendem o abecedário, álgebra, leis da física, o que são mitocôndrias e tantas outras coisas. Mas nada que as ensine a se relacionar de maneira saudável consigo e com os outros. O lado emocional está riscado das disciplinas escolares. Pelo menos até há bem pouco tempo, quando foi criada a Asec, Associação pela Saúde Emocional de Crianças, uma ONG que tem a missão de ensinar os pequenos da primeira série a lidar com as dificuldades do dia-a-dia, a identificar e falar sobre seus sentimentos. “O objetivo é que as crianças conheçam formas positivas de comunicação”, diz Tania Paris, coordenadora do programa no Brasil. Tania trabalhou como voluntária no Centro de Valorização da Vida, ONG que oferece apoio a pessoas em crise, e percebeu que a maioria dos problemas dos adultos poderia ser amenizada se experimentassem maneiras de lidar com eles desde pequenos. Foi quando conheceu um projeto da Partnership for Children, associação criada na Europa por uma equipe de psicólogos, psiquiatras e pedagogos que tem justamente essa preocupação. O projeto, apelidado de Amigos do Zippy, foi testado com bons resultados e está em escolas de onze países do mundo, como Canadá, Polônia, Islândia e China. No Brasil, é aplicado há quatro anos em escolas públicas e particulares. Em 2007, participaram mais de 20 mil crianças de 28 cidades do estado de São Paulo. A idéia é que, da mesma forma que a criança aprende a escovar os dentes, ela pode aprender o que fazer quando não está bem.
Por que ensinar educação emocional às crianças?
Sabemos que se uma pessoa não está bem emocionalmente, todo o organismo fica comprometido, até a própria capacidade de pensar. A felicidade e o bem-estar parecem algo etéreo, mas existem habilidades que contribuem para desenvolvê-los. A questão é que nossa sociedade valoriza o quociente intelectual, e as escolas estão mais preocupadas em preparar os alunos para passar na faculdade e ser bem-sucedidos profissionalmente. Mas a saúde emocional é decisiva para nossa felicidade.
Como funciona o programa?
A escola ou os pais interessados entram em contato com a ONG e solicitam o programa Amigos do Zippy. Então, nossos monitores capacitam os professores para que eles apliquem o programa nas salas de aula durante um ano. As aulas são semanais e começam com o professor lendo a história do Zippy, um inseto, e seus amigos, um grupo de crianças que vive situações bastante familiares para as crianças. Os pequenos são estimulados a participar de discussões e de atividades como desenho e jogos. No primeiro módulo, trabalhamos a capacidade de reconhecer emoções desagradáveis, como tristeza, raiva, ciúme e nervosismo, e de identificar estratégias para lidar com esses sentimentos. Se elas tiverem dificuldade para expressar seus sentimentos, correm maior risco de não conseguir pedir e receber ajuda.
Vocês trabalham com crianças de qual faixa etária?
Na faixa de 6 para 7 anos, porque é nessa idade que a criança começa a perceber o outro. Antes ela ainda está muito centrada nela mesma. O curso é realizado na fase em que os pequenos estão começando a se socializar.
É importante a criança identificar e falar sobre seus sentimentos?
Sim. O conceito do programa Amigos do Zippy é bem simples: se nós pudermos ensinar as crianças a lidar com suas dificuldades, elas terão mais facilidade para lidar com crises na adolescência e na idade adulta. Com esse estímulo, elas também se tornam adultos mais comunicativos. E as crianças adquirem a certeza de que existem várias alternativas para solucionar um problema. Sabemos que somos tão mais saudáveis emocionalmente quanto maior é nossa capacidade de encontrar alternativas para resolver as dificuldades.
Os professores ditam regras?
De forma alguma. Não dizemos o que as crianças devem fazer numa dada situação ou problema. Não há afirmações como: “Esta solução é boa e aquela é ruim”. Ao invés disso, o programa encoraja a criança a explorar alternativas, a ter discernimento e a pensar por si própria. O professor é um facilitador, ele não tem resposta pronta. Por exemplo, ele lê uma história e joga uma pergunta para o grupo: “O que podemos fazer para nos sentir melhor quando estamos tristes?” As crianças levantam as mãos e cada um diz uma coisa: “Eu posso dormir”; “Eu vou jogar videogame”; outro fala: “Eu choro”; ou então: “Vou tomar sorvete”. Os professores as incitam a dar muitas respostas. E a criar filtros, para que suas atitudes não prejudiquem os outros.
De que maneira os pais participam?
Há uma reunião com os pais para explicar o que vai acontecer durante o ano e qual é a importância de a família acompanhar e incentivar a criança nesse processo. Uma dica é que os pais sempre perguntem aos filhos o que eles tiveram na escola. Isso reforça o conhecimento da criança, ela se sente valorizada e a família aprende junto. Este ano vamos fazer um piloto em Sorocaba, interior de São Paulo, chamando os pais para fazer um curso de educação emocional. É importante eles aplicarem a filosofia do programa em casa.
Como vocês avaliam os resultados? As crianças mudam de postura?
Todo fim de ano pedimos um retorno das escolas para saber como as crianças estão. Até agora sabemos que elas tendem a ser mais prestativas. A maioria dos pais também nota mudanças no comportamento dos filhos, que passam a se comunicar mais livremente, mostram-se mais cuidadosos, sinceros e amigáveis. Temos muitos relatos interessantes. Certa vez, uma mãe estava discutindo com a filha adolescente, as vozes iam se elevando e elas estavam ficando agressivas. Um menino que estava ouvindo chegou para as duas e falou: “Existem outras maneiras de resolver isso”. As duas pararam a briga, e ele sugeriu que elas sentassem e começou a brincar com elas pedindo para elas pensarem em outras opções para resolverem aquilo. A mãe ficou tão pasma com a atitude do garoto que procurou a escola dele nas férias para agradecer.
Quais são os temas trabalhados durante o ano?
São questões que fazem parte da vida das crianças: como aprender a ouvir e pedir ajuda, como manter um amigo, como lidar com a rejeição e a solidão, como fazer novas amizades. Elas aprendem técnicas práticas para resolver conflitos e lidar com mudanças e perdas. O programa instrumentaliza internamente a criança para ela saber como se comunicar, buscar ajuda, enfrentar uma situação sem agressão. Um aprendizado que se torna natural para toda a vida.
TAG: CRIANÇA EVANGÉLICA E A EDUCAÇÃO EMOCIONAL
Deus te ama e tem um plano maravilhoso de vida e salvação para você!!!
Pastor Júlio Fonseca
Pastor Júlio Fonseca
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